A CREATINA COMO SUPLEMENTO ERGOGÊNICO
PARTE 2

Metabolismo da creatina
A creatina é um aminoácido, ácido metil guanidina - acético, o qual se encontra presente tanto nos alimentos quanto no organismo humano, devido à síntese endógena.

Nos alimentos, a creatina é encontrada em maior quantidade nas carnes (todos os tipos):
bacalhau - 3,0; linguado - 2,0; salmão - 4,5; atum - 4,0; e carne bovina - 4,5 g/kg. Encontra-se também em outros alimentos, porém, em quantidades muito pequenas.

Quando sintetizado no homem, este composto nitrogenado inicia seu ciclo de formação no rim, em uma reação envolvendo dois aminoácidos: arginina e glicina. Esta operação, catalisada pela enzima transaminidase, ocorre apenas neste órgão. Posteriormente, a creatina completa sua síntese pela adição de um grupo metil fornecido a partir da metionina (S-adenosilmetionina). Esta reação ocorre no fígado. A creatina assim formada, fora do músculo, é então distribuída para os diversos tecidos do organismo através do sangue.

A concentração plasmática de creatina é muito pequena, entre 50 e 100 micro mol/L. Na urina encontram-se apenas traços deste composto.

O principal destino final da creatina sintetizada é o tecido muscular esquelético, o qual detém aproximadamente 95% do pool orgânico; os 5% restantes distribuem-se entre órgãos como o coração, cérebro, retina e testículos.

A captação da creatina pelas células musculares é um processo saturável que ocorre ativamente contra um gradiente de concentração (transportador sódio-dependente), possivelmente envolvendo a interação da creatina com sítios específicos da membrana que reconhecem parte da molécula da creatina. Alguns possíveis mecanismos reguladores do armazenamento intracelular de creatina têm sido sugeridos: em um deles, na síntese endógena no rim e fígado, a concentração de creatina influenciaria um controle de feedback negativo na enzima que catalisa a 1a reação de síntese (transferase); em outro, a homeostase da creatina seria regulada pelo controle da expressão e atividade da proteína transportadora de creatina, podendo ser afetada por diversos análogos estruturais desta substância ou inibidores metabólicos.

Diariamente, um indivíduo adulto, com uma dieta habitual variada (mista), ingere aproximadamente 1.g de creatina, e uma quantidade similar é produzida pelo fígado para atingir as necessidades diárias. Este total (cerca de 2.g), equivale aproximadamente à creatina reciclada diariamente pelo organismo.

No músculo esquelético existe um equilíbrio reversível entre a creatina e a creatina-fosfato: na condição de repouso, aproximadamente dois terços do conteúdo de creatina está na forma fosforilada (CP) e o restante fica na forma livre. Como anteriormente referido, a fosforilação da creatina é um processo dependente de oxigênio, isto é, da fosforilação oxidativa.

A taxa de degradação da CP tem se mostrado maior nas fibras musculares do tipo II (contração rápida) em relação às do tipo I (contração lenta), e a disponibilidade de CP como um substrato energético nas fibras de contração rápida é considerada o possível fator limitante para a manutenção da força muscular durante um exercício de alta intensidade.

Por outro lado, as taxas de ressíntese da CP nas fibras musculares do tipo I é mais rápida do que nas do tipo II, devido, provavelmente, ao maior potencial aeróbio das fibras de contração lenta; portanto, este é um processo dependente de oxigênio.

Após um exercício de alta intensidade, aproximadamente metade da concentração inicial de CP é regenerada no primeiro minuto de recuperação; a ressíntese total da CP ficaria completada após aproximadamente 5 minutos.

A creatina na forma fosforilada, como reserva de fosfatos de alta energia, não permite unicamente a manutenção dos níveis de ATP intracelular em condições de trabalho muscular, mas também, na condição de repouso (recuperação), atua no músculo como transportador de grupos fosfato de alta energia da mitocôndria para o citoplasma. Este mecanismo, na célula muscular esquelética e cardíaca, permite o rápido deslocamento de fosfatos de alta energia da matriz mitocondrial, onde são produzidos a partir da fosforilação oxidativa, até o citosol.

A CP também é utilizada durante o trabalho anaeróbio (láctico) intermediário – 15 segundos até alguns minutos, quando sua quebra vai ajudar a tamponar o meio ácido intracelular, causado pelo acúmulo de lactato. Maior quantidade de CP na célula muscular significa uma maior capacidade de tamponamento, e assim, um maior tempo de resistência à fadiga.

O ciclo da creatina finaliza quando é convertida em creatinina, por uma reação contínua e irreversível de desidratação (não enzimática), sendo excretada pela urina. A quantidade de creatinina reciclada e eliminada é constante de um dia para outro e é produzida em proporção à massa muscular de um indivíduo.

Fatores relacionados ao armazenamento de creatina no músculo
Ainda não é claro se existem diferenças devido ao sexo para a concentração de CP armazenada no músculo. Em um estudo não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significante entre as concentrações médias de creatina, segundo o sexo.

Em relação à idade, estudos relataram que a taxa de ressíntese da CP após um exercício tende a diminuir com o tempo, aproximadamente 8% a cada 10 anos após os 30 anos de idade.

A redução do tamanho da massa muscular, a diminuição do diâmetro das fibras do tipo II e a diminuição da atividade enzimática mitocondrial e do metabolismo dos fosfatos de alta energia são algumas das alterações relacionadas com a idade que se associam com o declínio da força muscular e da capacidade de resistência física, o qual ocorre com o envelhecimento.

A determinação da composição dos tipos de fibras musculares não varia somente de um músculo para outro, mas também entre indivíduos. Este é o motivo de alguns serem melhores corredores de velocidade e outros melhores corredores de endurance. Segundo técnicas de separação de fibras musculares dos tipos I e II, a partir de
amostras de tecido muscular congelado e seco, as fibras do tipo II (contração rápida), em repouso, tiveram maior concentração muscular de CP do que as fibras do tipo I (contração lenta).

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